O mundo caiu na real: os EUA vão comprar e pumpar Bitcoin, até poder quitar parte da dívida soberana com ele.
Michael Saylor, da MicroStrategy, espera que a estratégia gere U$ 16 trilhões para o Tesouro. A dívida hoje é de U$ 36 T.
Eu fiz as contas pro Saylor: pra render U$ 16 T, o Tio Sam precisa adquirir ~28% de todos os BTC, e esperar até que o ativo suba 33x, superando o ouro em capitalização de mercado.
Pra efeito de comparação, 28% é mais ou menos quanto os EUA têm hoje das reservas soberanas de ouro.
As reservas atuais de ouro dos EUA (28%) vs. a de Bitcoin (0.5%). via River e World Gold Council
Os Estados Unidos só tem 2 caminhos pra pagar a dívida pública, e impedir que o dólar colapse em algum momento nos próximos 100 anos.
O primeiro é achar alguma tecnologia que faça disparar a produtividade. Hoje, os EUA devem 1,23 dólares pra cada 1 dólar de riqueza produzida. É preciso que a produtividade cresça muito mais rápido que a dívida.
A aposta no primeiro caminho é I.A.
O segundo caminho é investir em algum ativo que se valorize o suficiente pra ser dado como pagamento a quem emprestou dinheiro pros EUA, no passado.
No segundo caminho, só existe um único ativo politicamente neutro, pequeno o bastante, e com upside ilimitado - que um governo nacional consegue, sozinho, fazer subir violentamente.
via TimeChainIndex
O affair de Trump com cripto parece estabanado, mas esconde uma racionalidade surpreendente.
O jeito mais “limpo” de se lançar uma criptomoeda, hoje, é fazendo uma memecoin. Mais que um NFT, mais que um airdrop, mais que uma pré-venda ou ICO. O recém-nomeado "czar de cripto” deixou isso claro: “memecoins são colecionáveis, e não valores mobiliários”.
Não tem nada de ilegal em se lançar uma memecoin, quando se é um civil. Presidentes eleitos não devem criar ativos financeiros durante o mandato… mas, 2 dias antes de tomar posse, ainda vale.
A memecoin do Trump já é uma das 15 maiores emitidas em solo americano, e ele vai passar 4 anos sem lançar outra.
Agora junte essas informações com o “lema” da nova administração de priorizar cripto ativos genuinamente americanos. Isso tem feito Washington acelerar a aprovação de ETFs de Solana e Ripple, assim como considerá-las para inclusão na “Reserva Estratégica de Bitcoin” (agora renomeada de “Estoque de Ativos Digitais”).
O que estou sugerindo é: Trump não lançou sua moeda afoitamente, pra embolsar alguns milhões antes de ser empossado.
O plano é ter uma das maiores memecoins estadounidenses, dar-lhe um ETF e ainda credenciar-lhe pra entrar na Reserva Nacional.
O resultado da ordem executiva do Trump sobre cripto vai sair de fato em outubro.
Não acho que a criação de uma “Reserva Nacional de Bitcoin E Shitcoins” seria uma catástrofe.
O TotalMarketCap ficaria mais feliz ainda. Seria desonesto com o povo americano, claro, mas suspeito que Trump, no fundo, saiba disso.
A teoria dos jogos nos consola. Sugere que os estados da federação vão criar reservas “100% Bitcoin” como forma de se hedgear à irresponsabilidade do FED. Já tem 9 estados americanos com proposta pra isso. E, antes dos estados, as cidades. Antes delas, os indivíduos.
A nível federal, a verdade é que os shitcoiners vêm gastando muito mais dinheiro que os bitcoiners.
De um lado temos o lobby da a16z, Ripple, da Coinbase, da Consensys…
… e, do outro, meia-dúzia de empresas bitcoin-only, Michael Saylor, e a associação dos mineradores de BTC.
a16z, Ripple e Coinbase estão entre as 15 maiores doadoras políticas corporativas de 2024. A maior doadora que é “100% BTC” não tá nem no top 1000. via OpenSecrets
Uma reserva nacional maximalista (100% BTC) só sai se o Trump for excepcionalmente sensível.
Algo me diz que a moeda $TRUMP pode vir a ser o “boi de piranha” do presidente nas negociações. “Se for botar shitcoins nesse negócio, então coloca a minha também!”. E aí o nível de pureza da Reserva vai depender da vergonha na cara dos envolvidos.
É engraçado, porque cripto é um dos poucos blocos políticos com um ativo nativo, o que cria um ciclo virtuoso entre preço e influência política. Quanto mais crescemos, mais proteção compramos, e mais crescemos. Mas isso vale tanto pro Bitcoin quanto pra shitcoins. Algumas se tornaram grandes demais pra serem ignoradas.
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Riram de mim quando sugeri entre amigos que $TRUMP eventualmente pode até ser usada pra quitar parte da dívida soberana dos EUA.
Mas, se tem uma coisa que cripto me ensinou, é a “nunca apostar contra a imbecilização da sociedade”. Essa regra ajuda a diversificar as outras alocações racionais do meu portfólio.
“O futuro mais irônico é o mais provável”.
Demorei a perceber que o filme “Idiocracy” não era ficção, mas um mocumentário. Se você não assistiu, veja hoje mesmo. É engraçado.
É uma realização absurda: perceber que o maior país do mundo está a ponto de imprimir dólares pra comprar unidades da nossa moedinha mágica da internet.
Nosso ponzi está ganhando do deles. Satoshi deixou Tio Sam de joelhos. A América vai se endividar pra comprar Bitcoin.
Mas a surpresa evapora, quando me dou conta de que mais de 90% dos leitores dessa newsletter também estão alavancados em BTC. Pense comigo:
Qualquer real que você deva em financiamento da casa própria, cartão de crédito ou bolsa estudantil é uma dívida cujo pagamento você escolheu postergar. Se você tem Bitcoin, isso significa que optou por comprar a criptomoeda em vez de quitar seus débitos. Ou seja: se alavancou.
Tá tudo bem: você não é o único. Tem gente indo muito mais longe.
Em 2017, um pai de família holandês vendeu a casa, colocou tudo em Bitcoin e foi morar com as 3 filhas na estrada.
Didi Taihuttu vendeu a casa e todos os bens pra comprar BTC abaixo de mil dólares e viver na estrada com a família.
Em 2020, um CEO de empresa de tecnologia começou a tomar bilhões de dólares emprestados pra comprar Bitcoin.
Nos dois ombros de todo bitcoiner, tem um anjinho e um diabinho. O anjinho reproduz o senso comum: se alavancar - se endividar para investir - é a coisa mais perigosa do mundo.
O diabinho sussurra outra coisa. Projeta que o Bitcoin vá valorizar a uns 20-30% anualizados pelos próximos 10 anos, o que torna racional pegar dinheiro emprestado a taxas mais baratas que essa, hoje, para comprar mais criptomoeda.
Todo bitcoiner, no fundo, é um atacante especulativo.
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Quando o texto “Ataque Especulativo” foi publicado, em 2014, o trade era simples: “pegar emprestados” dólares baratos (que não custam nada pra criar) pra comprar uma moeda sólida (que custa pra criar), Bitcoin.
Se você nunca leu essa pérola, leia agora. É um dos meus clássicos favoritos do cânone bitcoiniano, junto ao “Hiperbitcoinização” e “A Estratégia Correta do Empreendedorismo Bitcoiner”.
O marco alemão hiperinflou na década de 20 (preto, no gráfico). Um industrialista sagaz se tornou o homem mais rico do país pegando marcos emprestados pra comprar ouro. 100 anos depois, tem gente fazendo algo parecido com o Bitcoin e o dólar (vermelho, no gráfico).
Conforme o valor do Bitcoin se solidifica nas mentes das pessoas, o dinheiro fiduciário sangra. Primeiro as pessoas agem de forma conservadora, investindo “só o que podem perder”.
Depois de alguns anos, as criptomoedas delas se valorizaram dramaticamente. Elas não veem razões pelas quais a tendência possa reverter. Os fundamentos são os mesmos. Elas ganham confiança. E compram mais. Já viram o preço despencar algumas vezes, tudo bem. O BTC cresce no lado dos “ativos” do balanço das pessoas.
Do lado do “passivo”, no balanço do bitcoiner, você encontra financiamentos imobiliários, dívidas estudantis, cartões de crédito, etc. Todo mundo demoniza a ideia de se emprestar dinheiro para consumir ou investir - principalmente em bitcoin. Mas a realidade é que o dinheiro é fungível. Se você compra bitcoin em vez de quitar sua casa, você é um investidor alavancado de bitcoin.
Todo bitcoiner é um investidor alavancado, porque faz sentido econômico, enquanto o custo da dívida for mais baixo que o retorno esperado de se portar bitcoin.
Este é o fundamento do ataque especulativo: quanto mais forte o Bitcoin fica, mais ele aumenta a demanda por crédito fiduciário, mais dinheiro é criado, e mais latente se torna o problema que o Bitcoin resolve.
Um excerto da histórica “Bitcoin Bill", da Senadora Cynthia Lummis, nos EUA.
O resto desse texto…
…é exclusivo pra quem assina/recebe a Café Com Satoshi por e-mail. O Substack limita o tamanho 😢
Muito informativo!
Sou fã demais do qnto vc escreve bem, sempre q vejo, paro imediatamente p ler e me deleitar.👏🏻👏🏻👏🏻