☕ #88: Bom Gosto tem Juros Compostos 📈💰
O segredo que nunca tiveram coragem de te contar sobre "estética".
Bom gosto é uma das poucas coisas que não se compra.
É a diferença de 10g entre o peso do cartão ultravioleta do Nubank e o do Itaú Personnalité.
É todos os cantos circulares de produtos da Apple terem exatamente o mesmo raio.
É o shuffle do Spotify não ser 100% randômico, mas sim evitar tocar o mesmo artistas 2 vezes seguidas.
Bom gosto é a habilidade incansável, quase dolorosa, de saber o que deveria existir, o que não deveria, e onde o esmero realmente importa. É a diferença entre lançar um produto, e lançar um ponto de vista.
Os melhores empreendedores entendem: bom gosto é uma vantagem competitiva que tem juros compostos.
É possível que uma ou duas decisões esmerosas passem despercebidas. Mas, quando todas as decisões de uma organização são de bom gosto, ela se torna impossível de ignorar. Vai além dos pixels - está na sua codebase, na sua cultura, no seu cap table.
Pense num restaurante. Qualquer um pode seguir as receitas premiadas, buscar os melhores ingredientes, e servir comida. A diferença entre uma refeição medíocre e uma estrela Michelin não é técnica - está no paladar do chef. O faro dele em saber quando tem sal demais, quando falta um ingrediente, ou quando é hora de empratar menos.
As 50 capas diferentes do livro Um Cafe com Satoshi - um dos projetos de mais bom gosto que a Paradigma fez recentemente. Fotografia e design: Polar, Ltda
😮💨 1. Fácil Dizer, Difícil Fazer
A maioria das empresas confunde bom gosto com estética.
Contratam uma agência de design, escolhem uma bela fonte, e pronto. Mas o bom gosto de verdade é mais profundo - está nas mensagens de erro, nas “animações” enquanto uma página carrega, nas features que não entraram no produto porque eram meramente boas mas não essenciais.
O bom gosto de verdade machuca. Emerge da morte de muitas ideias que "poderiam ter sido”. Como disse Pascal, “Se eu tivesse mais tempo, teria escrito uma carta mais curta”.
Bom gosto é gastar uma semana aperfeiçoando uma interação que 0.1% dos seus usuários vão notar. É escolher um caminho mais difícil tecnicamente, porque a experiência de uso vai ser 10% melhor.
Se o seu “gosto” não custa nada… não é bom gosto, é só preferência.
Páginas do livro Um Café com Satoshi, do qual a Paradigma produziu somente 50 edições, para colecionadores. Fotografia e design: Polar, Ltda
📈 2. Como o Bom Gosto tem Juros Compostos
O bom gosto transforma o caos em clareza.
Imprime um tom coeso em todo lugar por onde passa: landing pages, power points comerciais, documentação, suporte. Clientes sentem estar lidando com uma inteligência singular; e não um comitê.
Essa coerência vira vantagem competitiva. Num mundo cada vez mais barulhento, o polimento impressiona mais que a quantidade.
Seu site vai ser julgado em segundos. Seu vídeo, na primeira cena. Seu texto, na primeira linha. Essa impressão inicial dita a percepção do usuário durante toda experiência subsequente.
A cada interação, os efeitos se multiplicam.
Primeiro você vai numa loja da Apple “só pra conhecer”, afinal, os caras investem em design de interiores.
Aí você pega um iPhone na mão e sente que algo ali é especial: o peso, a forma, o acabamento…
Então você descobre que, se apagar algo sem querer no bloco de notas, pode chacoalhar o celular para desfazer a ação (o “CTRL+Z” nos computadores normais).
Depois você aprende que pode copiar um texto no celular e colar direto no seu Macbook.
Este livro foi montado pela viúva do Jobs, compilando os melhores escritos dele. A Apple deu de presente para funcionários - nunca vendeu. Nos mercados secundários, uma cópia não sai por menos de mil reais.
Fast forward alguns anos, e você virou um evangelista convicto, professando os mandamentos da Apple para todo e qualquer amigo interessado em tecnologia.
É assim que o bom gosto tem juros compostos.
Steve Jobs morreu faz décadas. Mas o esmero dele ainda reverbera. E comanda um prêmio difícil de racionalizar.
Por que as pessoas pagam 2x mais por um hardware da maçãzinha, em vez de um aparelho chinês funcionalmente equivalente?
Não é por conta de gastos em propaganda. Bom gosto não se compra. Se lapida, decisão depois de decisão.
🏟 3. Criando Bom Gosto Organizacional
O bom gosto não escala por acidente. Mas sim através de sistemas.
No começo, toda decisão “user-facing” passa pelo crivo do fundador. Não é sobre controle. É sobre consistência. Isso só funciona com respeito, franqueza e velocidade. Você não pode ser um gargalo, tem que ser um diapasão.
O fundador torna seu bom gosto explícito. Narra suas escolhas. Explica seus “não”s. Cria gradualmente um vocabulário compartilhado. Registra exemplos de boas escolhas, e deixa claras aquelas que seriam cringe demais. Martela repetidamente o mesmo ponto.
As pessoas costumam confundir "escrever bem" com "usar palavras difíceis". É um erro. Bom gosto na escrita é sobre escolher palavras que as pessoas conhecem, mas não estão acostumadas a usar.
Então, contrata multiplicadores. Um designer que programa. Um engenheiro que curte tipografia. Um videomaker alérgico a thumbnails ruins. Pessoas que não se importam somente com a tarefa à mão, mas com o produto final no qual ela se integra. Essas pessoas encolhem a distância entre visão e execução. Não constroem só o que você descreveu - constroem o que você quis dizer.
Esses multiplicadores “herdam” o crivo original. Usam diariamente o produto ou serviço em que trabalham. Não testam features, testam sensações. Quando algo dói, consertam. Quando algo encanta, dobram a aposta. O bom gosto contagia. Quanto mais você assiste alguém tomar minúsculas decisões que somam algo coerente, mais provável é que as suas decisões não destoem.
Organizações de bom gosto monitoram não só seu débito técnico, mas também seu débito “sensorial” - o header improvisado da newsletter, a mensagem mambembe de erro no site. Cada aresta não polida ensina o time que o esmero é opcional.
As melhores pessoas não são atraídas por problemas fáceis ou valuations estratosféricos. São atraídas por times que se importam. Querem construir coisas únicas, com gente que se orgulha do que faz.
Tudo que o time da Paradigma escreve deve seguir estes princípios. Se você ver alguma mensagem nossa quebrando a coesão, pode nos cobrar.
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🏇 4. Bom Gosto em Velocidade
Na era da IA, todo mundo desenvolve na velocidade da luz. A tentação é trocar o “craft” pela cadência; lançar coisas rápido e consertar o que for preciso mais tarde.
Mas o que os melhores times percebem é que bom gosto não é antagônico à velocidade.
Quando se sabe exatamente o que se está construindo, e porquê, perde-se menos tempo em revisões, pivotagens, e desculpas. O bom gosto acelera a tomada de decisão. Quase toda escolha se torna óbvia quando filtrada por um ponto de vista coerente.
A disciplina requerida é brutal. Significa ignorar a “última tendência” pra focar no seu core business. Assistir oportunidades passarem porque agarrá-las quebraria a coerência da sua estratégia.
Jiro (o melhor sushimen do mundo) não entrou na onda dos temakis. Nunca adicionou azeite trufado ao cardápio. Se concentrou em lapidar um ponto de vista ao longo de décadas, e em executar implacavelmente. O mercado vai até ele.
Este é o cardápio do restaurante do Jiro. Repare nas datas: ao longo de 11 anos, o formato não mudou. Note a simplicidade: não tem firula; só os peixes frescos do dia.
👀 5. Como “Aprender” Bom Gosto
Você pode guardar o bom gosto com processos, e escalar com sistemas, mas não pode ensiná-lo. Bom gosto precisa ser aprendido.
Notar instantaneamente que uma interação está mal desenhada, que o peso da fonte está descalibrado, que o fluxo tem um passo a mais do que deveria: essa habilidade de “sentir” a diferença resulta do reconhecimento consciente de padrões, praticado ao longo de milhares de horas.
Filmes, livros, quadrinhos, séries, viagens, músicas, autores obscuros e fóruns no porão da internet: não existe referência ruim. Tudo conta. Ruim é ter pouca referência.
É preciso ver o mundo, prestando atenção. Mastigar com os olhos.
Os princípios podem ser escritos. Mas o julgamento precisa ser desenvolvido.
O site da Stripe (o processador de pagamentos) versus o de um dos seus concorrentes. Qual te parece ter mais bom gosto?
🧜 6. Bom Gosto Como Vantagem Competitiva
O bom gosto resiste à comoditização, porque não é uma feature. É uma filosofia expressa em dezenas de milhares de decisões.
Em um mundo no qual uma IA replica qualquer site em segundos, o bom gosto é o diferenciador final.
Qualquer um pode, hoje, escrever exatamente como Shakespeare. Mas ninguém sabe escolher sobre o quê escrever como ele.
Qualquer um poderá, em breve, criar e lançar um jogo equiparável ao Fortnite em um par de dias.
Mas e a sensação de se jogar algo esculpido com intenção genuína? Isso é irreplicável.
"Um cavalo é um camelo desenhado por um comitê" - ditado indiano.
🏁 7. Você Não Está Sozinho
O bom gosto nasce na solidão, e termina na liderança. Começa com uma pessoa que não consegue desver aquele botão desalinhado 1mm para a direita. Daí, essa pessoa encontra outra, que torce o nariz também. Depois, outra pessoa, inconformada com o mesmo descaso.
De repente, você não está mais sozinho. Virou parte de uma conspiração de gente que se importa.
O designer que luta por uma iteração a mais. O engenheiro que refatora as gambiarras alheias. O gestor de produto que mata a feature que triplicaria a receita, mas macularia a vibe. O suporte que reescreve a documentação porque cansou de explicar a mesma coisa para pessoas diferentes.
Cada um levantando a barra do todo, simplesmente por se recusar a baixar a sua.
Pode parecer como a jornada de Sísifo, empurrando uma pedra gigante morro acima. Mas é mais como empurrar uma bola de neve morro abaixo. Fica mais fácil com o tempo.
Os copycats não podem copiar o que não conseguem ver. Os gurus não podem ensinar o que não conseguem definir. Os MBAs não podem planilhar o que não conseguem sentir. E um dia, de repente, o bom gosto vence.
Não porque foi mandatório. Mas porque um grupo de pessoas decidiu que a sensação que seus produtos evocam importava tanto quanto o que eles faziam. Decidiu que a alma do negócio era mais preciosa que seu bottom line.
E elas estavam certas.
Este texto é uma adaptação livre do "Taste", da Sarah Guo. Leia o original aqui.
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