☕ Café com Satoshi #1: Bitcoin sombrio, mineradores em guerra
Novembro já é o mês mais negativo do ano para o mercado. A mesa de trading norte-americana Genesis reporta que uma leva de clientes grandes que entraram ao fim de 2017 aceitaram perdas e saíram do jogo. No Brasil, Samy Dana e sua turma proclamam eufóricos, em rede nacional, a bolha para a qual tanto alertaram (mais sobre isso no final do texto).
💉 Mineração em polvorosa
O Bitcoin perdeu ~37% de sua hashrate máxima em Novembro (de 55 para 34 TH/s). A Ethereum viu redução de ~11% na sua. Há um antigo debate no mercado sobre se “os mineradores seguem o preço ou o preço responde aos mineradores”. Causalidade é difícil de determinar, mas a correlação é inquestionável. A mineração no bitcoin voltou a níveis de rentabilidade equivalentes aos do final de 2016. Consequentemente, levas de máquinas não-performantes foram sucateadas na China e uma grande mineradora declarou falência nos EUA. A hashrate do BTC foi impactada não só pela queda nos preços como também por um conflito há muito antecipado, em um de seus forks - o Bitcoin Cash.
Em 15 de novembro, o Bitcoin Cash passou por um hard fork programado - um upgrade que torna versões anteriores do software incompatíveis. Dois grupos se formaram, com visões oponentes para a evolução da rede. De um lado, Craig Wright lidera o Bitcoin SV (popularmente conhecido como Faketoshi, ele clama ser Satoshi Nakamoto mas nunca ofereceu prova). Do outro lado, Roger Ver, early adopter do Bitcoin, e a Bitmain, maior mineradora do mundo, lideram o Bitcoin ABC. As divergências técnicas abundam - atemo-nos aqui aos efeitos da briga no Bitcoin (BTC).
No evento de um fork, a cadeia mais longa de blocos (aquela com mais trabalho de mineração acumulado) deve ser considerada válida. Na batalha por legitimidade, e pelo ticker $BCH nas exchanges, Faketoshi e a Bitmain tiraram hashrate “até de onde não tinham” para proteger suas redes, e mesmo atacar a concorrente. A BitMex Research estima que a Bitmain e os financiadores de Faketoshi já tenham “queimando” algo em torno de U$4 milhões cada, para sustentar o Bitcoin ABC e o Bitcoin SV. Vale lembrar que o “desperdício” é medido em custo de oportunidade, uma vez que a mesma hashrate poderia estar minerando Bitcoin (BTC) de modo mais lucrativo (a perda diária está na casa dos U$500.000). Outro detalhe importante no contexto é o de que a Bitmain está prestes a abrir capital na bolsa de Hong Kong, e possui grande quantidade de $BCH (agora, Bitcoin ABC) no seu balanço.
👮 A SEC arregaça as mangas
A Security Exchanges Commission (SEC) fez um acordo envolvendo multa com o fundador da EtherDelta, uma das exchanges não-custodiais mais populares do mercado. A notícia surpreendeu aqueles que consideravam tais entidades imunes ao cerco do órgão americano, dada sua natureza relativamente “descentralizada”. Um alerta foi aceso, particularmente, no ecossistema da 0x - protocolo sobre o qual a maioria das exchanges não-custodias (chamadas de relayers) são construídas, e que tem o seu próprio token ($ZRX, recentemente listado na Coinbase). A 0x respondeu rápido com o que pode ser considerado uma ofensiva: o lançamento de um kit para se implementar relayers em menos de um minuto - como que afastando de si a responsabilidade. Meses atrás, o protocolo já vinha passado por um upgrade que facilitou a implementação de KYC por parte de relayers.
Em seguida, foi a vez de dois ICOs conduzidos em 2017 serem mirados pela SEC. Uma ordem de cease-and-desist foi emitida para a Paragon e a AirFox (esta com um fundador brasileiro), dois projetos que levantaram dezenas de milhões de dólares. A iniciativa cria um template para ações similares no futuro. O Colorado tem sido rígido em suas instâncias contra emissores de tokens locais, e há uma operação nacional em curso (Operação CryptoSweep) para estender a aplicação de leis de valores mobiliários a tokens designados como tais. Este artigo da CoinDesk e esta tweetstorm são bons pontos de partida para se aprofundar nas possíveis implicações legais.
⏳ Ainda não é a hora do ETF…
A estreia da BAKKT, plataforma de futuros de Bitcoin da ICE, dona da bolsa de Nova Iorque (NYSE), foi oficialmente adiada para janeiro de 2019. A data anteriormente prevista para início de operação - 12 de dezembro - representava um alento para investidores ansiosos por novos influxos de dinheiro institucional no mercado ainda neste ano.
A SEC ainda não se posicionou sobre os 10 pedidos pendentes para a aprovação de Exchange Traded Funds (ETFs) por parte de instituições americanas, dos quais 1 tem chance real de ser aprovado no curto-médio prazo. No meio de novembro, contudo, um instrumento parecido foi aprovado para negociação na Suíça: trata-se de um índice dos 5 cripto-ativos mais líquidos, com o ticker HODL5. Vale lembrar que a Coinbase e a BitWise já têm índices que são negociados, com certas restrições, em mercados americanos - e que a XDEX, da XP Investimentos, recentemente lançou uma bolsa no Brasil onde se pode investir em um índice de Bitcoin.
🔭 Olhando para a “big picture”
A história não necessariamente se repete, mas rima. O bitcoin já passou por duas grandes “recessões” e, ao contrário do que ocorre com bolhas, recuperou-se engatando altas que inevitavelmente culminaram com máximas históricas renovadas. Gráficos em escala logarítmica não são muito populares entre jornalistas, mas se revelam úteis a investidores que buscam discernir volatilidade localizada de tendências de longo prazo. Em escala log, variações percentuais equivalentes - e não variações absolutas de preço - representam a mesma altura no gráfico. Abaixo, por exemplo, veja como o preço do bitcoin caiu, percentualmente, quantidade equivalente à perda nos ciclos de baixa de anos anteriores.
Leia o artigo “5 crypto-native indicators to enrich your market cycle analysis”, que escrevemos para elucidar alguns indicadores extraídos de dados públicos, on-chain, que podem ser usados para identificar ciclos e mudanças de tendência no bitcoin.
🔢 Números & datas
+100: A Aragon, kit de ferramentas para a criação e gestão de organizações autônomas descentralizadas (DAOs), lançou seus contratos à rede principal da Ethereum no fim de outubro. Já foram criadas mais de cem DAOs com o produto - de livrarias a fundos de investimento, passando por galerias de arte.
27/11: Consensus Invest, evento da CoinDesk, em Nova Iorque.
15/12: Fundação NEM, que controla uma das 15 maiores moedas em capitalização de mercado ($XEM), conduz eleições entre token holders para seu conselho e presidência.
1 ano: SpankChain, site de conteúdo adulto que é um dos produtos mais utilizados na Ethereum, completou aniversário. O post comemorativo celebra os esforços da equipe, os mais de U$ 300.000 processados e mais de 300 profissionais cadastrada(o)s.
7: número de narrativas diferentes identificadas ao longo da história da Ethereum, em texto escrito por nós para a Token Economy (“Visions of Ether”).