☕ Café com Satoshi #12: O Diabo Veste Azul 😈
⌛ Finalmente vai acontecer. Um marco-chave na história do dinheiro digital está para se materializar. Não se trata do Bitcoin batendo 100 mil dólares. Nem de um banco central de grande porte abraçando a moeda. O grande evento de junho, na indústria, é a confirmação da aposta do Facebook na seara das criptomoedas.
O Bitcoin sucedendo, era questão de tempo até que uma grande corporação de tecnologia se aventurasse na emissão de dinheiro. Esse tempo chegou. E agora?
⚰ Mark Zuckerberg: Começo, Meio e Fim
Poucas pessoas simbolizaram uma geração tal qual Mark Zuckerberg.
O jovem prodígio, introspectivo e birrento, passou por cima de tudo e de todos para lançar o serviço mais popular do planeta, ainda na adolescência.
Queridinho da nata do Vale do Silício - que ajudou a enriquecer - Mark foi capa da Time, pré-candidato à presidência e até aspirante a Nobel da Paz.
Isso tudo antes de sua empresa ser flagrada engambelando usuários ininterruptamente, de “capitalismo de vigilância” virar um termo da moda, e do jovem inescrupuloso testemunhar diante de um Senado atônito com sua desumanidade.
A notícia da vez é que o Facebook, emaranhado em escândalos de privacidade, mentiras recorrentes e fraude, se prepara para lançar uma criptomoeda própria. Até então avesso ao Bitcoin (anúncios relacionados eram banidos da rede social até meses atrás), o CEO da empresa parece ter tido um momento de realização.
Zuck é inegavelmente um gênio, mas algumas de suas ideias mais ambiciosas se provaram fracassos retumbantes nessa última década.
A corrida à presidência falhou vergonhosamente. A aposta no Oculos Rift se mostrou uma miragem. O Facebook Portal padeceu antes mesmo de ser lançado. No que tange a boa fé de usuários e a opinião pública, a empresa nunca esteve em momento pior.
Zuckerberg agora tentará convencer 2 bilhões de pessoas a usar um dinheiro que é seu.
É provável que a empreitada tenha sucesso em países pouco bancarizados, e faça a diferença na vida de muita gente. É improvável que abocanhe valor de mercado (ou usuários) do Bitcoin.
Esse tipo de competição era previsto. Nos últimos anos, a comunidade técnica que guia o Bitcoin debateu muito sobre os méritos de se focar em micropagamentos e velocidade VS. soberania, inconfiscabilidade e resiliência à mudança. O Bitcoin seguiu o rumo de um “ouro digital”, frustrando muitos que se empolgavam com o potencial da moeda para transações do dia a dia.
Os dois usos não são mutuamente excludentes. Na prática, cada um faz o que quiser com os seus bitcoin. Mas sempre se anteviu a dificuldade de competir com um Facebook da vida no segundo caso. Enquanto que, quando mais imutável e inflexível o Bitcoin se mostra, mais difícil é para qualquer um competir com ele nesse quesito.
Por fim, o Bitcoin age como um ponto de convergência. É o “inimigo do inimigo”, em comum a todos que não são líderes de mercado (da indústria das redes sociais à da emissão do dinheiro).
A defesa mais segura aos competidores do Facebook (incluindo, aí, governos), não é lançar uma criptomoeda concorrente, mas sim abraçar e fortalecer o Bitcoin - desnutrindo aqueles que gastam recursos em qualquer outro lugar.
É isto que os 10 últimos anos vem demonstrando. E é isso, muito provavelmente, que vai dar tom à batalha cultural épica que 2020 descortinará.
🥊 Zuck VS. Irmãos Winklevoss, parte 2
É difícil encontrar quem não se lembre de A Rede Social, aclamado filme de 2010. Vencedor de 3 Oscars, narrou o nascimento conturbado do Facebook, expondo o arquétipo do empreendedor imoral e antecipando uma avalanche social que arrastaria até a sua vó para as timelines.
O ponto central da trama era um litígio, entre Zuckerberg e os irmãos Winklevoss, que o processaram. Há 10 anos atrás, a opinião popular julgou o CEO do Facebook como herói.
De lá pra cá, Zuck pisou na bola - de novo, e de novo. Os irmãos Winklevoss pegaram os ~U$11M que receberam de indenização e investiram em bitcoin. Hoje, chefiam uma das maiores empresas da indústria das criptomoedas.
Em 2020, essa história ganha um novo capítulo. O autor do livro que deu origem ao primeiro filme acaba de publicar uma sequência. “Bitcoin Billionaires” conta a história da reviravolta do século, e dá ao público mainstream a chance de mudar de ideia quanto a quem seriam os vilões e mocinhos dessa trama.
O destino é caprichoso. Não nos surpreenderia se uma adaptação para cinema dessa sequência saísse perto do lançamento da moeda do Facebook, previsto para 2020. Para completar o cenário, é provável que tudo isso aconteça às voltas do próximo halving do Bitcoin, no próximo maio - historicamente, um ponto de inflexão.
Ninguém precisa te dizer que ter uma porção da oferta finita de um dinheiro apolítico e incensurável é mais valioso que ter parte da oferta de um dinheiro californiano e suscetível ao humor de um CEO megalomaníaco.
Esta é a tese que justifica analisar o contexto como positivo para a criptomoeda-mãe. O Facebook não deve tomar usuários do Bitcoin tanto quanto deve aumentar a exposição dele a novos usuários, porque inevitavelmente terá de apresentar a tecnologia para bilhões de pessoas.
Zuckerberg vai ensinar sobre Bitcoin tanto quanto Maduro o fez, quando lançou o $Petro na Venezuela.
Os gêmeos Winklevoss não estão mais sozinhos na revanche dramática, que deve chegar aos cinemas no ano que vem e inundar as redes sociais de memes.
De 2010 pra cá, o “lado do Bitcoin” foi fortalecido com o apoio de Jack Dorsey, bilionário CEO do Twitter. De uma porção do mais tradicional capital de investimento do mundo. De alguns dos melhores desenvolvedores do planeta. E do zeitgeist.
Conjecturar sobre uma criptomoeda do Google ou do Facebook já foi um passatempo de bar, que soava distante e absurdo. É surreal poder assistir ao jogo se desenrolar em tempo real.
👮 GlobalCoin, a moeda do Facebook
Desde 2017, o Facebook construiu um time de mais de 30 pessoas, liderado por David Marcus, ex-presidente do PayPal e membro do conselho da Coinbase.
Após explorar alternativas, começou a desenvolver uma moeda estável própria. A ideia é “lastrear” seu valor em uma cesta de moedas de países variados e ativos mobiliários.
Vale lembrar que, se a iFinex emite uma moeda “lastreada” em ações de uma subsidiária sua, não seria tão surpreendente ver o Facebook adotando posição similar num futuro próximo.
A companhia não mencionou o projeto na sua última conferência de desenvolvedores. Mas marcou um anúncio público para a próxima terça-feira, 18/06.
O que se sabe, até agora, é que a plataforma adotará um modelo de “conta corrente”, com a moeda pagando juros a quem a possui. Uma fundação chamada Libra foi registrada em Genebra, na Suíça, para cuidar legalmente da empreitada.
Zuckerberg já conversou com o alto escalão financeiro na Inglaterra e nos EUA, além de ter feito contato com os próprios gêmeos Winklevoss e de donos de bolsas proeminentes na indústria do Bitcoin.
Está em busca de parceiros para operar um “nó completo” da rede - para servi-la como infraestrutura. No Bitcoin, qualquer um pode fazer isso. Zuck está cobrando um ingresso de U$10 milhões para quem quiser ter o direito de fazê-lo na sua blockchain.
🤑 Só nessa indústria, mesmo…
A Blockchain LLC, empresa que pagou U$150M+ por um terreno gigante em Nevada, anunciou aquisição da alemã Slock.it. A Slock.it é composta pelo time que projetou e lançou o TheDAO, na Ethereum, em 2016. Caso você não se lembre do fim que levou o TheDAO, refresque a memória aqui. A Blockchain LLC quer construir uma “cidade inteligente sobre blockchain", a partir do zero, no deserto, ao lado de sedes da Tesla e do Google.
Justin Sun, CEO da Tron, pagou quase U$5 milhões para ter um almoço com Warren Buffet. O megainvestidor americano, que já declarou achar o bitcoin equivalente a “mero veneno de rato”, vai ter de ouvir sobre Tron e torrents por mais de 1 hora.
A novíssima “exchange descentralizada” da Binance bloqueará acessos vindos de 29 países diferentes (incluindo os EUA). Se você não captou a contradição: código “descentralizado mesmo” é incapaz de bloquear quaisquer acessos.
📚 Leitura Recomendada:
🏆 Why Bitcoin Will Win The Next Economic Crash (Jusuf Serifi): um panorama macroeconômico simples e compreensível, com ponderações de cenários possíveis em futuros períodos de crise.
💳 A History of Visa (Mine Safety Disclosures): uma narrativa recheada de detalhes sobre o nascimento da titã dos pagamentos - spoiler, no começo, era só um clube de crédito…
🌼 Bitcoin Springtime (Felipe Sant Ana & Renato Shirakashi): a versão em inglês do nosso último relatório sobre o panorama do mercado e indicadores on-chain.