☕ Café com Satoshi #14: Os Bobos da Cripto-Corte 🤡
🧘 “Primeiro eles te ignoram. Depois, eles riem de ti. Então, lutam contra. Por fim, você vence” (Gandhi).
Na quinta passada, Donald Trump (cuja riqueza não chega à 1/3 daquela do inventor do Bitcoin) se pronunciou publicamente sobre criptomoedas: “não sou fã". No mesmo dia, o chairman do FED teceu comentário elogioso ao $BTC.
10 anos depois da incepção, é a 1ª vez que um presidente americano em exercício fala sobre o tema. Satoshi se regozija com o andar da carruagem - onde quer que esteja.
🍦 “Alt Season” é Um Prato que se Come Frio
Alt Season, ou “temporada das altcoins", é o nome do cenário hipotético em que moedas alternativas se "descolam" do Bitcoin, oferecendo excesso de retorno (alpha) a investidores nelas posicionados.
O gráfico acima mostra a correlação entre 10 conhecidas altcoins VS. o bitcoin. Os retângulos denotam períodos em que o tal “descolamento” de fato aconteceu. O que chama atenção é a diferença entre a metade direita e a metade esquerda da imagem.
Na metade esquerda (verde), nota-se uma variedade de comportamentos mais ou menos independentes. Na metade esquerda (vermelho, de 2018 em diante), fica nítida uma transformação. As altcoins em questão morfaram em uma espécie de "índice” próprio: elevada correlação com o bitcoin, e altíssima correlação entre elas mesmas.
De abril de 2019 em diante, a correlação com o $BTC voltou a cair - desta vez não por conta de uma “Alt Season”, mas por que o bitcoin “disparou isoladamente do resto”.
Pipocaram memes sobre o fenômeno. A Alt Season, desta vez, não passaria de uma miragem? Ou o movimento, atribuído a uma “reciclagem de lucros” gerados em pernas de alta do $BTC, se repetirá somente quando se “exaurirem as esperanças”, e quando as moedas alternativas estiverem “baratas o suficientes para as baleias”?
Digna de nota é a dominância do Bitcoin, em tendência de alta desde o meio do ano passado, e rumo a patamares pré-2017. Enquanto o mercado é apegado à “Dominância de Market Cap” (sensível à manipulação), preferimos olhar para a “Dominância de Fee Cap", que só é sensibilizada quando há dinheiro de fato sendo gasto para se usar uma determinada blockchain.
A dominância do Bitcoin em uma média simples de 30 dias ultrapassa os 85%, e não dá sinal algum de reversão.
Uma hipótese é a de que o padrão super-simplificado de altcoins seguindo em horde o “first move” do bitcoin tenha deixado de ser “acionável” justo por ter se tornado óbvio.
Outra é a de que a dinâmica de “amplificação do movimento” do Bitcoin seja cada vez mais concentrada em poucos ativos “menos piores”.
É indisputável a posição do Bitcoin como guião do mercado, mas vale ressaltar que a criptomoeda-mãe não consta no top 10 de ativos com maiores retornos em 2019.
🎭 Os Bobos da Cripto-Corte
Era questão de tempo até que a epidemia das criptomoedas penetrasse as vísceras gangrenadas do sistema internacional de Direito.
Nos últimos meses, tribunais e câmaras ao redor do mundo se viram forçados a entender mais a fundo o Bitcoin.
1. 🤡 Craig Wright
O australiano que se passa por Satoshi Nakamoto diante de incautos - e, no mês passado, levou repórteres da ISTO É a cometerem uma gafe vergonhosa - é vítima de um processo curioso nos EUA.
A família de um antigo minerador de bitcoin, já falecido (em circunstâncias não muito claras), acusa Craig Wright de ter se apropriado indevidamente de muitos milhares de $BTC através de golpes em empresas do morto, e reclama o dinheiro de volta.
Acontece que o pedido se baseia na premissa de que Craig de fato esteve envolvido na concepção do Bitcoin e, portanto, teria uma fortuna “para devolver” - o que nunca foi provado. Uma série de documentos forjados por ele e evidências incontestáveis apontam exatamente o contrário: que ele teria chegado à cena muito depois de o verdadeiro Satoshi ter desaparecido.
Se Craig perder o processo, seu feudo argumentará que há então uma evidência jurídica de que ele é Satoshi (pois terá de reembolsar uma fortuna que supostamente minerou nos primeiros anos da rede). Se Craig ganhar o processo, a mesma tese poderá ser sustentada.
Mundo afora, Wright tem processado quem o “acusa” de não ser Satoshi. Qualquer um com um par de olhos e neurônios funcionais pode fazer uma diligência online e chegar a conclusões por conta própria.
O que não dá pra questionar é o arsenal de artimanhas legais na manga do sujeito.
2. 🤝 Libra contra a parede
O circo legislativo está sendo montado em volta da mais nova iniciativa do Facebook.
Alertamos na newsletter passada sobre a série de obstáculos (leia-se: propinas, veladas ou não) que Zuckerberg terá de enfrentar para lançar sua moeda.
O banco central europeu designou-a como “um despertador” para reguladores globais. Bancos centrais da Índia, da França, da Austrália, e de praticamente de toda nação na Terra se posicionaram questionando a libertinagem de Zuckerberg e defendendo suas próprias soberanias, em termos simples.
Na semana seguinte ao anúncio, o Facebook fez acordo com órgão de defesa de consumidores nos EUA para pagar uma multa recorde de U$5 bilhões.
O jogo começou. Prepare-se para muito mais multas, acordos, emendas, backdoors, GDPRs, pedidos de desculpas e escândalos de privacidade até que a Libra de fato chegue ao mercado.
3. 🇧🇷 Em solo tupiniquim
Luiz Philippe de Orleans e Bragança, príncipe e deputado federal fez discurso liberal no Congresso argumentando que não faz sentido regulamentar criptomoedas por “puro ímpeto” (o que configura intervenção estatal), somente diante de demanda do povo 👏
🌊 O Tsunami dos Derivativos
O Bitcoin não tinha preço, até que uma primeira transação comercial combinada em um fórum lhe atribuísse valor, em 2010.
Não havia mercado, até que uma bolsa improvisada despontasse para juntar compradores e vendedores, em 2010.
Não havia índices, até que alguém decidisse inventar e produtizar, em 2013.
Não havia derivativos, até 2 traders resolverem negociar um contrato futuro em 2014.
Apartados do sistema bancário tradicional por rusgas práticas e ideológicas, pioneiros do Bitcoin não hesitam em criar, por conta própria, a infraestrutura capaz de conferir liquidez, mecanismos de descoberta de preço e respaldo ao ativo.
Acontece de dois jeitos: na inovação intra-indústria, com a invenção de instrumentos nativos das criptomoedas (e.g. derivativos de hashrate); e na inovação inter-indústria, com a criação de pontes com o sistema financeiro tradicional (e.g. um ETF de Bitcoin).
Um dos produtos financeiros originais da indústria a ter ganho tração é o swap perpétuo. Trata-se de um derivativo inventado pela equipe da BitMex, bolsa que vem negociando mais de U$1 bilhão por dia.
O swap perpétuo é um contrato com 2 peculiaridades. Primeiro, não tem data de vencimento. Segundo, prescreve uma taxa (“de funding”) a ser paga diretamente de uma ponta para a outra da operação (long VS. short), de modo a incentivar a abertura de posições compradas quando há excessivas posições vendidas, e vice-versa, o que acaba mantendo o preço do instrumento pareado ao do ativo subjacente.
Na esteira do sucesso do swap perpétuo, a BitMex se tornou um dos negócios mais lucrativos da indústria. O instrumento foi copiado por bolsas concorrentes: OkEx e FTX são algumas das que já oferecem o mesmo. O volume de derivativos de criptomoedas passou a brilhar os olhos de Wall Street.
Nos próximos meses, pontes importantes com o sistema financeiro tradicional começarão a funcionar.
A CME, maior mercado regulamentado negociando derivativos de Bitcoin, hoje, e que vem batendo recordes de volume, prepara-se para lançar seu contrato de Ether.
A Bakkt (da mesma dona da bolsa de NY) começa a testar seus futuros neste mês.
A ErisX, competidora, ganhou carta branca da CFTC para iniciar as suas operações.
O mesmo aval foi recém dado para a LedgerX.
De quebra, a SEC autorizou, pela primeira vez, duas ofertas de tokens a alvejarem consumidores de varejo americanos, através da infame Reg A+: Blockcstack e Props.
Muito se aguardou que 2018 fosse ser um ano de financeirização e institucionalização para a classe de ativos. O mercado de baixa afugentou investidores e freou avanços. Mas 2019, neste sentido, não vem desapontando.
🎮 Bitcoin na Cultura Pop
Tony Hawk, astro do videogame de skate, confessou no Twitter estar “subindo a rampa” do Bitcoin, sem nem sequer titubear, há mais de 6 anos.
Fernando Ulrich soltou em entrevista ao Mises Brasil que uma sequência atualizada do livro A Moeda na Era Digital está para ser publicada.
Publicados os vídeos do debate entre Arthur Hayes (CEO da BitMex) e Nouriel Roubini (economista) em Taipei. A história envolvendo a supressão, edição e posterior publicação do material é bizarra.
Peter Schiff, um dos mais famosos “apologistas do ouro”, publicou um endereço de bitcoin no seu Twitter e acabou recebendo mais de U$2 mil em doações de bitcoiners. Ele então fez uma enquete perguntando se deveria vender as moedas para comprar ouro ou guardá-las: adivinha o resultado?
📚 Leitura Recomendada:
🏰 Crypto Rogues: U.S. State Adversaries Seeking Blockchain Sanctions Resistance (Foundation for Defense of Democracies): estudos de caso da Venezuela, Rússia, Irã e China, num relatório de qualidade rara sobre o choque sísmico geopolítico propelido pelo Bitcoin.
⬇ Negative in Perpetuity (Alex Gurevich): o que acontece se/quando a curva de juros “risk-free” de todas nações de 1º mundo virar para perpetuamente negativa?
🧠 The Correct Strategy of Bitcoin Entrepreunership (Daniel Krawisz): clássico de 2014, sugere que empreendedores foquem menos em fazer dinheiro com bitcoin e mais em fazer do bitcoin, dinheiro - e que investidores façam menos venture capital e mais filantropia especulativa.
🏠 ETH 2.0 Educational Resources (ProtoLambda): uma coletânea de recursos visuais detalhando a transição para a qual a Ethereum se prepara. Das duas uma: ou vai iluminar seu entendimento, ou petrificar seu ceticismo.