☕ Café com Satoshi #15: Grupo da Família VS. Hackers 🧨
📸 “No futuro, todos serão famosos por pelo menos 15 minutos” (Andy Warhol).
🎭 “No futuro, todos vão querer ser anônimos por pelo menos 15 minutos” (P. Perez).
Esta edição da newsletter foca em temas que começam a pautar a guerra fria memética no cerne da geopolítica moderna.
Privacidade. Identidade. Direitos que intuímos ser desnecessário pôr em palavras.
Se você é daquelas pessoas que prefere não saber como a tecnologia funciona de verdade nos bastidores, pare de ler agora.
🙌 Cripto-Mártires, Uni-Vos
A identidade de Satoshi Nakamoto é o segredo mais bem guardado da internet. Onze anos depois de colocar o sistema financeiro em cheque-mate - e oito depois de ter abandonado sua cria - o inventor permanece um enigma.
O desaparecimento de Satoshi é frequentemente citado como uma “vantagem competitiva" da criptomoeda-mãe. Não há líder que possa ser alvejado. Responsável que possa ser culpado. Chefe que possa ser coagido.
Para muitos, a gênese do Bitcoin - e por consequência o registro histórico que literalmente carrega o valor da rede - é impossível de ser replicada.
Nakamoto executou um plano que, em retrospecto, parece mesmo fadado a ser único. Mas partes dele tem antecessores históricos. E, até hoje, alguns “seguidores” se aventuram a replicar o método.
Os Documentos Federalistas, importantes na gênese dos Estados Unidos, foram publicados pelos “Pais Fundadores” sob um pseudônimo.
Na década de 30, na França, "Nicolas Bourbaki” foi o pseudônimo de um grupo de matemáticos que publicava descobertas polêmicas no ramo da teoria de conjuntos.
Muitos autores optaram por mascarar a identidade para se evitar represálias.
Receio de sanções levou o inventor do Esperanto (a língua universal) a publicar sua primeira proposta pseudonimamente, em 1887 (assinado: “Dr. Esperanto”).
Marie Curie, 1ª mulher a ganhar um Nobel, publicou obras originais de sua pesquisa sobre radioatividade sob pseudônimo. A razão é óbvia. Em contexto mais recente, JK Rowling (do Harry Potter) publicou o 1º livro da série usando suas iniciais porque a editora lhe recomendou esconder seu gênero.
Na seara da arte moderna, Banksy é um dos exemplos mais ilustres. Idealizador de centenas de pinturas chocantes pelo planeta, além de um documentário espetacular, segue provocando o mundo com sua identidade desconhecida.
No que tange criptomoedas, “fundadores que desaparecem” ressurgiram em 2019.
Ignotus Peverell, criador pseudônimo da moeda GRIN, deixou o projeto silenciosamente em junho (os principais desenvolvedores ainda são anônimos). O evento suscitou, é óbvio, comparações com Satoshi.
Na semana passada, Curtis Yarvin, blogueiro de extrema direita e fundador do ambicioso projeto Urbit (investido por Peter Thiel), anunciou que, após quase 20 anos de dedicação, lega a empreitada a mãos alheias e vai fazer outras coisas da vida.
Narrativas do tipo devem ganhar proeminência em anos por vir, proporcionalmente ao ímpeto de autoridades em cercar emissores de novos ativos digitais.
Curiosidade: as últimas trocas de e-mail publicadas de Satoshi eram com um programador. Este contava ter sido recém convidado pelo FBI para prestar depoimento.
1️⃣9️⃣8️⃣4️⃣🌐 A Distopia é Agora
Não é à toa que privacidade e anonimidade venham se tornando assuntos da moda.
São particularmente sensíveis no universo financeiro, onde a erradicação (em curso) do papel moeda nos conduz a uma sociedade cada vez mais “monitorável”.
“1984” não se construiu do dia pra noite. “1984” existe desde a escrita do livro (1948).
“1984” não é só uma imposição. É também uma escolha.
O Big Brother não é só o Estado vigilante. É o estado de espírito do vigiado.
A cada vez que você faz uma compra no cartão, dá um like, ou manda uma mensagem no WhatsApp, seus dados privados são coletados e revendidos.
Você nunca deu a mínima.
Produz alguns gigabytes de "pegada digital” por dia (62Gb em 2025 segundo a The Economist), e nunca parou pra se importar com o destino disto…
…até 2019.
Tudo bem deixar endereço, rotina diária (GPS) e lista de melhores amigos à mão do do Zuckerberg. Mas aí a descobrir que qualquer mané pode acessar seu telefone à distância e roubar conversas do grupo da família - ou do grupo do STF - também já é demais.
A realidade é que todo serviço terceiro que usamos online é uma nova superfície de ataque disponível para hackers.
A multa recente de U$ 5B ao FB pelo vazamento da Cambridge Analytica ajudou a, pelo menos, enfiar a preocupação na cabeça de executivos de tech mundo afora.
Com uma base de usuários em êxodo, o Facebook, para super-monetizar a população que lhe resta, deve recorrer a mais e mais práticas do gênero.
Você já teve a experiência de conversar sobre um produto no telefone, e receber um anúncio dele no Instagram em seguida. Provavelmente comentou a respeito num almoço em família: os mais velhos não deram bola, e um parente “paranoico” citou alguma fonte obscura, jurando que você está sendo escutado o tempo todo.
Pois chegou a hora de conhecer as fontes do “parente paranoico”:
O seu celular te escuta quando você nem imagina.
Seu microfone, câmera e tela do iPhone/Android podem não estar desligadas enquanto você dorme (google “Session Replay”).
Qualquer desenvolvedor pode monitorar o que você digita em certos apps.
Sua operadora desviará seu telefone ao pedido de qualquer criança.
Não é paranoia. É fato. Tire 5 min. para ler os links acima e conclua por conta própria.
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👊🏴 Ciência, consciência e resistência
Só sairemos do ciclo vicioso de subordinação-privação em que nos metemos como espécie se tivermos vontade de fazê-lo. E a vontade só vem depois da consciência.
Você sabia que a chance de um algoritmo simples determinar a orientação sexual de uma pessoa, a partir de uma única foto dela, beira os 80%? E que, com 5 fotos da mesma pessoa, salta para mais de 90%? Já parou pra pensar o que isso significa em regimes que criminalizam a homossexualidade?
Talvez, aos poucos, a humanidade esteja despertando para a arapuca cyber-real que construiu.
A crise em Hong Kong é um evento que guarda valiosas lições de resistência civil.
🇭🇰 Nos protestos (contra o bullying chinês) que vem tomando a ilha pelas últimas 8 semanas, cobrir o rosto é palavra de ordem para não ser identificado pelas câmeras onipresentes.
Manifestantes se deslocam em transporte público, e juntos, para evitarem localização (GPS) ou agressões individuais. Compartilhamentos nas redes sociais seguem a regra de esconder a identidade dos envolvidos.
Granadas de gás lacrimogênio são contidas organizadamente com cones e água. Rajadas de lasers vindas da multidão nublam as miras do exército. Os protestantes criaram até uma linguagem de sinais própria para comunicar táticas em sigilo.
Já não é a plena distopia orwelliana?
Outro caso emblemático de opressão política (e resistência civil) é o do Irã, afundado em sanções internacionais. Ano passado, o Slack cortou o suporte a contas iranianas. Semana passada, o GitHub, maior plataforma de colaboração em software do mundo, baniu iranianos por completo (além de sírios, cubanos, criméios e norte coreanos). Incontáveis desenvolvedores ficaram órfãos de seus próprios projetos, antes hospedados no site.
No mesmo Irã, floresce uma cooperativa de tecelagem que paga funcionárias em BTC - o salário que outrora ganhavam em $ era desviado por maridos e gerentes de banco.
Lembre-se:
Utopia e distopia são duas faces da mesma moeda.
A tecnologia não é boa nem má - muito menos neutra.
O que importa é o que você faz com ela - conscientemente ou não.
🎮 Bitcoin na Cultura Pop
🐉 A China acelera os planos de desenvolver uma moeda digital ante ao avanço da Libra - sua concorrente ocidental.
🤡 Justin Sun (Tron) adiou almoço antecipado com Warren Buffet, pelo qual pagou +U$4 milhões. Rumores apontaram sua presença na lista chinesa de controle de fronteiras; Sun postou lives de São Francisco, nos EUA, e depois se desculpou com reguladores chineses online. Vai entender…
📺 Joe Squawk, comentarista sexagenário da CNBC, versou fluentemente sobre o estoque-fluxo do Bitcoin em pleno jornal econômico de sua emissora, com a maior naturalidade do mundo.
🦄 Um scam asiático que vem entupindo a rede da Ethereum para anunciar seu evento de lançamento foi desmascarado: o CEO se chama Abercrombie; o CTO, Springsteen Brain; e os vídeos (assista!) parecem saídos direto do American Pie. Vale a risada.
📚 Leitura Recomendada:
👋 A Founder's Farewell (Curtis Yarvin): despedida do fundador da Urbit. “O modelo bazar é incrível. Mas o modelo catedral existe por uma razão. O desafio para qualquer projeto ambicioso de código aberto não é escolher entre um modelo ou outro, mas quando e como migrar de catedral a bazar”.
💡 Metaphors We Believe By: the Pantheon of 2019 (Aaron Lewis): coletânea saborosa de metáforas para descrever forças que moldam o mundo.
🔎👣 The End of Privacy (palestra de Michal Kosinski no Google): 1hr de vídeo para mudar de relação com sua “pegada digital” - e para entender tudo que um cientista de dados descobre sobre você a partir de uma simples selfie.
📣 Justin Sun's International Game of PR (Global Coin Research): breve biografia focada na personalidade perturbada do garoto-propaganda da Tron.