☕ Café com Satoshi #17: Tempo é Dinheiro ⏰
🥊 Muitas divergências entre escolas do pensamento econômico derivam da concepção que se tem do tempo.
Para alguns, as transações mais importantes em uma economia são as que acontecem agora. Entre diferentes participantes do mercado. O gasto (consumo) é uma medida crucial de prosperidade.
Para outros, a transação-chave é aquela que acontece, a cada escolha, entre um indivíduo e ele próprio, no futuro. A poupança (e o investimento) é uma medida fundamental de prosperidade. Do quanto estamos dispostos a abrir mão de consumir, hoje, para poder consumir amanhã?
🧠 Riqueza é Conhecimento
Novos conhecimentos levam à criação de riqueza (Eric Beinhocker).
Ao longo da história, a riqueza emerge das curvas de aprendizado resultantes de bilhões de experimentos empreendedores, conduzidos por agentes econômicos em mercados (mais ou menos) livres. Vivemos melhor hoje por conta dos erros e acertos que acumulamos nessa aventura milenar.
Se conhecimento leva à riqueza, é a aprendizagem que leva ao crescimento. O papel mais importante do dinheiro é o de medir essa aprendizagem (George Gilder).
O dinheiro carrega informação a investidores, trabalhadores, empresários e corporações - cada um, à sua maneira, precisa medir o sucesso ou fracasso de suas próprias tentativas de empreender crescimento.
Manipular o valor do dinheiro - seja imprimindo mais moeda ou artificialmente sufocando taxas de juros - não cria mais riqueza.
Em vez disso, equivale a se manipular os dados de um experimento científico depois que este já ocorreu, distorcendo a informação que guia os reais esforços criadores de riqueza.
💸 Dinheiro é uma Unidade de Conta
O dinheiro não tem valor. O dinheiro expressa valor.
Metros não são grandes, quilos não são pesados: ambos expressam tamanho e peso.
Da mesma maneira, dinheiro serve como uma medida universal.
Pelo menos, deveria. Uma unidade de medida não pode fazer parte daquilo que mede.
Não dá pra descrever um quilo como sendo “o peso esperado de uma abóbora”. Ou um quilômetro como “1/10 do comprimento esperado de um rio qualquer”.
Em qualquer sistema de medidas, é preciso que haja uma realidade objetiva e externa ao fenômeno que se está interessado em mensurar.
Um quilômetro, por exemplo, define-se como 1000 vezes a distância que a luz viaja no vácuo em 1/299 792 458 segundos. Um segundo, por sua vez, define-se com base no ritmo de decaimento radioativo de átomos de Césio-133.
⌚ Tempo é Dinheiro
Pergunte-se: o quê o dinheiro se presta a medir?
“Atividade econômica” é uma resposta comum. Mas acatá-la significa aceitar o dinheiro como sendo uma unidade de medida auto-referencial.
“O crescimento da economia”, diriam os mais perspicazes. Faria sentido, se a quantidade de dinheiro no mundo acompanhasse o dito crescimento (não o faz. Mas, por curiosidade, a oferta circulante de ouro o faz, com precisão embasbacante - vide Kwasi Kwarteng).
Eric Beinhocker tem uma definição mais romântica: dinheiro deveria medir a “taxa de descoberta de soluções para problemas humanos”. Era isso que G. Gilder chamava de “aprendizado”.
Ainda mais sucinto, Gilder propõe que a realidade objetiva e externa que o dinheiro quantifica é nada menos que a própria passagem do tempo. Veja como faz sentido:
Empreendimentos no mercado criam conhecimento (processos que funcionam, ou não). Conhecimento se acumula e compõe. Como resultado, podemos produzir, consumir e viver mais (e melhor).
Em qualquer empreendimento, o limitador insuperável é a escassez e irreversibilidade do tempo. Com tempo infinito, tudo seria possível. Sua finitude impõe a necessidade da priorização, em cada escolha.
O valor do tempo se manifesta nas taxas de juros, nos orçamentos, nos contratos e registros contáveis. Quem já pegou um empréstimo, contratou um fornecedor ou acumulou juros compostos sentiu na pele que “tempo é dinheiro”.
Desigualdades financeiras não alteram a escassez intrínseca do tempo. Ele se distribui uniformemente para ricos e pobres: todos temos as mesmas 24 horas por dia.
Governos podem fingir que certos bens custam naturalmente mais caro (gasolina), que alguns são gratuitos (cuidados médicos), ou que outros estão encarecendo (educação).
Mas o tempo segue irreversivelmente escasso, e dita que os custos reais de produção devem cair em proporção às curvas de aprendizagem através da economia.
⏳ Bitcoin é Tempo
O Bitcoin espelha, online, parte da função cumprida pelo ouro na economia "física”.
O ouro funciona como dinheiro porque opera fora da economia financeira, como um índice do tempo que se leva para extraí-lo da Terra.
Como fica mais caro minerar camadas mais profundas e finas do metal, de lugares cada vez mais remotos, o ouro persiste estrela guia em meio a turbulências financeiras.
O custo da extração cresce quase proporcionalmente ao avanço da tecnologia de mineração. O custo de capital / tecnologia é “anulado”, e o ativo permanece sendo, em última instância, uma medida de tempo / trabalho - para a qual investidores migram seus ativos quando andam desconfiados sobre o quê a economia financeira realmente mede.
O Bitcoin otimiza essa função, e lhe elimina a imprecisão. A cada unidade de tempo, uma quantidade pré-definida de bitcoin é minerada - não importa o quanto se invista em mineração.
O tempo é tão precioso e soberano no Bitcoin que Satoshi implementou uma unidade própria, alheia a minutos e segundos: blocos. Tecnicamente, não acontece nada no Bitcoin entre um bloco e outro. O bloco é o átomo de tempo (equivalendo a ~10 minutos do “nosso” tempo). Nada é capaz de distorcê-lo permanentemente, assim como o número de bitcoin sendo “cunhados” a cada bloco.
A cadeia do Bitcoin é uma medida imaculada de tempo. Como o dinheiro deveria ser.
👩🚀 O Longo, Longo Prazo
Há experiências na vida que redefinem nossa relação com o tempo. Exemplos:
Plantar um abacaxi (3 anos para ver a primeira fruta);
Ter um filho (é preciso pensar em décadas);
Ser diagnosticado com uma doença terminal;
Conhecer o Bitcoin.
No que esta última acarreta? Como reconstrói o prisma pelo qual se vê o tempo na economia? O quê transforma nos nossos comportamentos e preferências individuais?
Continuaremos o raciocínio na próxima newsletter… esta já tomou muito seu tempo.
🎮 O Bitcoin na Cultura Pop
🏈 Bitcoin no esporte: um lateral da NFL, liga de futebol americano, foi anfitrião de um evento sobre Bitcoin na costa oeste, em setembro. Lidera informalmente um movimento de jogadores que vêm promovendo a moeda e fazendo campanha por salários denominados nela. Na NBA, liga de basquete, um jogador está em vias de tokenizar seu passe para fazer uma oferta inicial. Na 1ª divisão do campeonato inglês de futebol, o Watford estreou patrocínio que estampa… adivinha o quê, nas mangas?
🎤 Akon evangeliza o Bitcoin: em entrevista no rádio, o rapper disparou efusivo em favor da criptomoeda, e contra “dinheiros lastreados em exércitos políticos”. Definitivamente mais profundo que a onda de celebridades que vimos se envolvendo com cybermoedas em 2017 - Ronaldinhos Gaúchos, Paris Hiltons & cia.
✊ If Occupy Created Bitcoin: um autoproclamado ex-líder do movimento Occupy Wall Street lançou uma cripto-moeda “redistributiva”, na Ethereum. Por trás do discurso igualitário, um mecanismo que taxa toda transação e redistribui os proventos para aqueles que já possuem a moeda, em proporção ao quanto detém dela. Ativistas do mesmo movimento condenaram o moço, comparando-o a “Craig Wright”.
📚 Leitura Recomendada
🕊️ Pax Bitcoiniana (Felipe Sant Ana): guerras internacionais escassearam, mas conflitos civis estão em alta nas últimas décadas. A tendência geopolítica secular que atravessamos é de fragmentação, e não consolidação de Estados. O Bitcoin é só mais um capítulo nessa história.
🎭 Crypto, Truth and Power (Erik Cason): a ironia do Bitcoin é que ele não veio ao mundo como arma de guerra… mas aflorou como tal por entre estatismo totalitários. Governos seguem o mantra de que ‘Autoridade, e não a Verdade, confere legitimidade'. É só num cenário assim que o poder da Verdade ganha contornos revolucionários.
🌌 Law of Hash Horizons (Dhruv Bansal): a hiperbitcoinização aconteceu. Mineradores astutos migraram para colônias em Marte. Efeitos da relatividade se manifestam na segurança da blockchain. Floresce uma corrida por energia ultra-barata e galáxias distantes onde se possa minerar moedas sozinho.
✊ A Most Peaceful Revolution (Nic Carter): Satoshi capturou do Estado o direito (sem ônus) à criação do dinheiro - e o entregou ao povo da maneira mais pura concebível.