☕ Café com Satoshi #27: Este Cara Previu a Crise de 2020… 10 Anos Atrás ✨
O mundo parece desmoronar lá fora. Essa newsletter carrega a intenção de te acalmar. O processo não tem nada de apocalíptico. É natural. A sociedade “só” está se reacomodando em núcleos de poder mais localizados.
Não foram poucos os cientistas políticos que anteviram uma desintegração violenta nessa década. Atentamo-nos hoje para Peter Turchin. Desde 2010, ele alerta para a iminência de uma crise civil e disparada na instabilidade política em 2020.
Em 2017, quantificou suas previsões: a efervescência de 2020 seria pior que a de 1970, e equiparável à dos anos 20 - podendo ser validada pela ocorrência de mais de 100 eventos “sísmicos” em um período de 5 anos (figura abaixo - contexto, adiante).
🌌 O Buraco-Negro que Suga Criptomoedas
Primeiro você deveria baixar e ler esse relatório impecável que nossa equipe produziu sobre a maior gestora de criptomoedas do planeta.
A Grayscale vem sendo manchete frequente nos últimos dias pela capacidade de absorção de BTC. Seu principal fundo - gBTC - já custodia mais de 360 mil bitcoin, e “engole” novas moedas a ritmo estonteante.
A gestora ainda controla uma parcela significativa de todos os Ether, Ether Classic e Zcash em circulação (veja abaixo).
O caminho que percorreram para capturar essa montanha de dinheiro foi incomum. Envolveu malabarismos regulatórios, marketing agressivo e uma dinâmica de arbitragem que beneficia investidores grandes em detrimento do varejo.
A versão pública desse relatório, disponível aqui, vai ser provavelmente o melhor conteúdo de mercado que você vai ler hoje 👇
🏚️ Erupção Social
Peter Turchin é um proponente da teoria demográfica estrutural (SDT), que usa modelos estatísticos para descrever surtos de instabilidade em sistemas complexos.
A pesquisa dele é centrada nos ciclos de cooperação e cisão entre classes sociais e elites políticas. Argumenta que estamos em uma tendência declinante nos níveis de cooperação (abaixo, à direita) - alimentada por desigualdade -, o que acarreta índices recorde de polarização política (à esquerda).
Há pensadores famosos de outras áreas que conversam, de certo modo, com as visões e o timing de Turchin:
A ideia do "Fourth Turning” (teoria generacional), de Strass e Howe, postula que uma grande crise se desenrola a cada saeculum (vida humana - ou 80-90 anos), resultando dos efeitos cumulativos de 4 ciclos geracionais arquetípicos.
A tese do “Indivíduo Soberano” (ciber-política), de Davidson e Rees-Mogg, proclamava, no início dos anos 2000, uma ressurgência da responsabilidade individual propelida pela criptografia e pela autoestrada da informação.
Até Ray Dalio (macroeconomia) narra a sua versão dessa história, com base numa agora conhecida conjuntura dos “ciclos de expansão e contração do crédito”.
Em comum entre eles, a mensagem de que as transformações em voga não são corriqueiras. Em bom português: estão mais para algo que acontece a cada 100 anos, do que para algo que acontece a cada década.
Testemunhamos um capítulo importante da história. Em ritmo de videogame de ação.
🌱 Nichos Culturais
Estados estão se fragmentando. Códigos internacionais, deteriorando.
Como nos reconfiguraremos em grupos daqui em diante? Qual unidade social atômica sobreviverá ao completo redesenho do convívio humano? Quais ideologias prosperarão nas novas arenas públicas?
Tem uma ideia me fazendo cócegas na mente desde que passei meia hora assistindo a um PhD resolver um Sudoku que eu tinha certeza ser impossível.
O conteúdo me embutiu um senso imodesto de inteligência - irresistível passar adiante a possibilidade de se sentir o mesmo. Sinalizar pertencimento social. Status-como-um-serviço.
Mês passado, uma influenciadora de “classe média” no TikTok arrebatou um culto do dia pra noite, unindo 100 mil fãs em rituais, avatares e dialetos codificados que só eles entendiam.
Estes fenômenos podem não ter nada a ver com a desintegração institucional pela qual passamos. Mas, ao meu ver, dizem muito sobre a nossa capacidade de buscar pertencimento quando as fontes tradicionais de autoridade se revelam incoerentes.
Em uma nota um pouco mais séria, e distante do mero lazer: quando você deixa de confiar nas estatísticas reportadas pela Globo, a qual cientista dá ouvidos no Youtube?
✊ Epistemologia Orkutiana
A crise atual é de epistemologia. A transformação mais dolorida é reinventar os métodos que usamos para encontrar a verdade.
A porção de fãs que paga por conteúdo online vem aumentando. A parcela de criadores que sobrevive 100% do seu trabalho na web ostenta crescimento parecido.
Kevin Kelly, editor da Wired, previu em 2008 que bastaria 1000 fãs de verdade para que uma marca de mídia pudesse ser rentável na internet. A a16z, fundo de investimentos, estipulou, em fevereiro desse ano, que já bastam somente 100.
Se você passar tempo o suficiente navegando, vai encontrar comunidades dedicadas a atividades que nem sequer sabia existirem - ou serem possíveis.
A sugestão, aqui, é a de que é estes cantos obscuros da web são os berços das novas ideologias globais.
O nicho mercadológico é a unidade atômica que emerge mais forte do corrente cataclisma social.
Você não vê a sua família há dois meses e meio, mas não passa um dia sem acessar o stories do seu criador favorito. Não fala com seu avô desde o Natal, mas já mandou 9 directs nesse ano para a Carol Moreira perguntando se gostou do final de WestWorld.
Não se trata só de lazer. Atenção é poder.
A nova moeda global nasceu numa lista de e-mail. As celebridades das gerações mais jovens são fazedores de vídeos curtos gravados em casa. Os esportes mais populares (na quarentena, indiscutivelmente) são todos virtuais.
Arthur Mamãe Falei já foi do Youtube pro parlamento. O que impede Anitta de ir dos palcos pro Planalto? Aliás: você sabia que a ideologia que rege boa parte das cabeças da alta cúpula do governo remonta a um meme do Orkut?
🎬 O Guru do Seu Presidente Vende Curso Online
Por essa você não esperava. Olavo de Carvalho, guru bolsonarista, sofreu o primeiro cancelamento em massa da era das redes (no Orkut). Ou pelo menos o afirma.
Como resposta, criou um curso online sem fim, que já conta com 11 anos de conteúdo em vídeo, uma filosofia abrangente, milhares de assinantes e uma rede de ex-alunos nas mais altas esferas do poder público - a começar pela família do presidente (pelo amor de Deus, esta não é uma apologia ou defesa de nenhum dos citados).
O Anonymous é outro exemplo notável de um vetor de influência política oriundo dos confins da web: migrou de fóruns pseudônimos para o topo agenda pública em +10 anos de um marketing de guerrilha sem face.
O grupo é unido por missão, e não por liderança formal. Não é definido por identidades reais. Não é possível “entrar” nele. Assim como dá pra sair. Ser anonymous é abdicar da notoriedade para elevar o poder da ação coletiva. Anonymous podem ser todo mundo. Podem não ser ninguém. Podem ser alguém do seu lado - ou até mesmo você.
Se parar pra pensar, o mesmo modelo se aplica a várias outras insurgências culturais.
Desmerecer uma tendência porque ela se parece com um brinquedo é uma armadilha comum. Bitcoiners aturam desde sempre discursos imbuídos dessa superioridade.
Pois se prepare: é bem possível que comunidades sociais virtuais se assemelhem mais ao “país do futuro” que o Brasil (ou Portugal) que você habita hoje.
📚 O Que Nosso Time Leu no Fim de Semana
➡ 🔫 A Quantitative Prediction for Political Violence in the 2020s (Peter Turchin)
Em 2010, o autor previu que uma crise de violência civil e instabilidade política explodiria em 2020. Aqui, ele revê os acertos nas profecias, assim como os pontos que vem lhe surpreendendo.
➡ 🧭 The Political Polarization Index (Marina Azzimonti)
Constrói um índice de polarização política para então avaliar seus efeitos na economia. Sugere que a percepção pública sobre o Congresso é afetada pelo grau de polarização reportado na mídia - e de que este induz consequências econômicas adversas.
➡ 🔎 Ferramentas Pra Entender Seu Uso do Twitter
Andamos explorando algumas ferramentas para ilustrar a atividade de cada um no Twitter. As 3 a seguir podem te dar ideias legais. Allegedly: plote os tipos de tweets e horários mais frequentes da sua conta. Hive: enxergue seu ranking de influência, por tópico. TweetGraph: visualize as conexões entre todos seus tweets, e veja a densidade dos seus fios de pensamento.
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