☕ Café com Satoshi #40: Por Que Tem Gente Comprando GIFs Por Milhões? 💰
Ajeite as costas na cadeira. Esta semana promete. Ainda mais se você tá com a orelha quente de ouvir falar sobre Bitcoin, mas carrega um monte de desconfiança.
"A Semana da Moeda" é o melhor programa do ano, até agora. Três dias de lives abertas com algumas das cabeças mais esclarecedoras do Brasil.
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🖼️ O GIF de 6 Milhões de Dólares
Em outubro de 2020, um colecionador de Miami pagou 50 mil dólares por um GIF produzido pelo artista americano Beeple. Muitos amigos tacharam Pablo - o miamense - de estúpido. Por trás do entusiasmo dele, havia uma buzzword: NFT. Uma tecnologia prima do Bitcoin, e, supostamente, destinada a deixar uma marca na história da arte.
Três meses depois, Pablo colocou o GIF à venda. Tinha acumulado algumas dezenas de Beeples, e precisava diversificar. A peça foi arrematada sem rodeios. O valor? 6.6 milhões de Benjamin Franklins.
A cifra arregalou os olhos do establishment artístico, e rendeu um tsunami de manchetes. Quem é Pablo? E Beeple? Desde quando as pessoas pagam milhões de dólares por pixels?
😳 WTF são NFTs?
Se você ainda não sabe o que são NFTs, veja este nosso vídeo, pra ontem:
Para normalizar o que está acontecendo, considere estas 2 premissas:
1. Dezenas de trilhões de dólares são armazenados ao redor do mundo em arte. A classe de ativo é um deleite para os ultrarricos. Leilões movimentam bilhões. Não é o custo de produção que dita o valor de uma obra. Preços são incompatíveis com custos, nessa indústria. Esta já é a norma. Com NFTs, não é diferente.
2. O mercado da “arte” ainda não foi revirado do avesso pela tecnologia como a música (mp3) e o cinema (streaming). Talvez estejamos vendo só a ponta de um iceberg.
No fundo, o frenesí em torno de NFTs escancara o desespero por novas formas de monetizar a conexão entre criadores e fãs. Da TV para o YouTube, do YouYube para o OnlyFans, Patreon, Substack: tudo faz parte da mesma tendência.
👩🎨 Uma Renascença na Ethereum?
Ocorre uma repulsa natural à notícia de que tanto dinheiro está sendo trocado por… pixels.
Mas tem um contra argumento grandioso.
Bolhas raramente são em vão. Por trás da fanfarra e das cripto-fortunas, um novo capítulo na história da arte pode estar sendo escrito.
Começou com os CryptoPunks - uma coleção de 10.000 avatares generativos na Ethereum, criados em 2017. Foram distribuídos praticamente de graça, e hoje negociam a um piso de ~U$30.000.
O senso comum desdenha dos mecanismos pelos quais os Punks derivam sua raridade. Dos 10.000 exemplares, somente 24 tem a face de um macaco (Apes). Só 9 têm a pele azul (Aliens). Estes trocam de mão esporadicamente, não raro por um ou dois milhões de dólares.
Você pode achar que não faz sentido algum, mas narrativas do gênero abundam no universo das galerias. A única cena marítima do Rembrandt vale dez vezes mais que qualquer outro quadro dele. Vermeer só deixou ~35 telas pra trás, o que faz dele mais caro que muitos outros contemporâneos. Escassez, valor e aura são subjetivos.
Há paralelos com outros momentos históricos. A Renascença foi largamente financiada pela família (e o banco) Medici, de Florença. Cobrar juros era pecaminoso. Pra não desagradar o papa, os Medici cunharam letras de crédito privado, e, pra escapar à usura, basicamente inventaram o modelo de spreads bancários.
Assim como na época, uma inovação financeira é agora responsável por propelir a arte adiante. Assim como em muitos modernismos, o novo paradigma surge com cara de brincadeira. A pergunta-cerne deste movimento não é “o que é real?”, ou “o que é arte?”, mas sim “o que realmente significa possuir arte?”.
👾 Depois dos Punks, Vieram os Glifos
Os mesmos criadores dos CryptoPunks fizeram o primeiro trabalho artístico completamente auto-contido on-chain. AutoGlyphs são uma coleção de obras em que a transação na gênese de cada peça contém toda a informação necessária para que ela seja recriada. Assim, elimina-se completamente a necessidade de armazenar mídia em uma nuvem ou rede distribuída de memória.
O gênero artístico inaugurado pelos AutoGlyphs é inédito. Arte eterna (tão eterna quanto uma blockchain pode ser), não-perecível, com o DNA preservado pra sempre.
Ringers, Hashmasks e basicamente qualquer outra coleção que tenha sido lançada na ArtBlocks exploram conceitos parecidos.
A mídia generativa e auto-contida é para o movimento corrente o que a perspectiva foi na Renascença - a descoberta de uma técnica inédita, que desvela horizontes. E que, junto com uma inovação financeira significativa, pode marcar uma era.
Boa parte dos passos relevantes da história da Arte são precedidos por disrupções tecnológicas que mudam nossa maneira de enxergar a realidade.
Quando Brunelleschi descobriu a perspectiva, nos anos 1400, trouxe literalmente uma nova dimensão à pintura. A invenção da fotografia, no fim do século XIX, livrou os modernistas da perseguição pela perfeição (figurativismo), e abriu as porteiras para a exploração dos sonhos.
Os deep fakes, nos anos 2020, põe em cheque nossa capacidade de discernir entre o autêntico e o mentiroso. Qualquer um com um celular mequetrefe consegue se passar pelo Tom Cruise; e com um software meia-boca, replicar obras-primas centenárias. Como garantir que se detém ou olha para “algo original”?
Numa época em que percepção e simulação andam de mãos dadas, qual é o valor de se conseguir provar a posse de uma ideia artística; a origem dela; e a simetria exata do resultado com a intenção do artista - seja hoje, ou daqui a décadas?
O quê realmente significa possuir arte?
🏛️ Da Christie's à Paris Hilton
Acredite se quiser, aquele GIF de 6 milhões de dólares pode acabar se revelando uma pechincha.
Depois da venda histórica do Pablo, o colecionador de Miami, a febre dos NFTs saiu de controle. A TV transbordou de entrevistas sobre a pauta. Metade da NBA começou a colecionar cards na blockchain. O Logan Paul lançou NFTs. A Paris Hilton também.
A Christie's, uma das casas de arte mais tradicionais do mundo, resolveu dar um passo além: abriu o primeiro leilão da sua história centenária sem nenhuma peça física - só um NFT e um JPEG.
A obra é do Beeple, os lances se encerram na quinta-feira, e o preço… está atualmente em 8.25 milhões de dólares.
Enquanto uns choram, outros vendem lenço. Se você for artista, e quiser aprender como usar plataformas de criação e negociação de NFTs, veja este tutorial [PRO] 👇
🎥 Dicas de Filmes para a Semana
➡ 👀 Made You Look (Netflix)
Uma “história verdadeira sobre arte de mentira”, documenta a indústria da fraude que se infiltra em leilões renomados com cópias de obras modernas.
➡ 🗽 Treasuries From the Wreck of the Unbelievable (Netflix)
Documentário do polêmico artista contemporâneo Damien Hirst, com um orçamento multimilionário, naufrágios na costa da África e potencial para fritar alguns dos seus miolos.
➡ 🛒 Sonho Tcheco (Vit Klusak, Filip Remunda)
Documentário sobre a maior pegadinha publicitária já gravada em filme. Uma campanha nacional de propaganda para um produto que nunca existiu, e um estudo fascinante sobre a psicologia das multidões.
➡ 🎨 Tim's Vermeer (Teller)
Um inventor obcecado decide replicar a maneira como Vermeer pintava a luz. Depois de debulhar as evidências históricas para descobrir tudo sobre o processo do artista, o inventor se pôs a pincelar todos os dias, ininterruptamente, até que sua obra-prima ficasse pronta.
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