☕ Café com Satoshi #52: Um Tratado de Paz Assinado On-Chain 🕊
O Bitcoin subiu mais de 15% em 24h. A alta tem gosto agridoce. Por anos, descrevemos o cenário da hiperbitcoinização: momento em que a tecnologia “sairia do porão” para colidir com as forças que regem o mundo “lá fora”. Essa hora chegou.
Bitcoiners vislumbram um futuro revolucionariamente pacífico. Em que a moeda apolítica previne guerras infundadas. Preserva a soberania dos povos. E impõe um custo impagável a atitudes kamikaze como as que testemunhamos nos últimos dias.
Mas conflitos sangrentos colocam todo o resto em perspectiva. Ainda que o Bitcoin possa ser uma salvação para refugiados… ele não tem muito o que oferecer para quem está diante de um soldado inimigo, com a vida por um fio.
🔌 Energia, Independência e Segurança Nacional
Energia é poder. Não é à toa que coiners ignoram críticas de que a crépetomoeda “consome energia demais”. O que importa é de onde vem - como é gerada - a energia.
Ter um mix energético eficiente é bem diferente de ter um geopoliticamente seguro.
Às vezes, segurança significa desviar tubulações submarinas milhares de quilômetros pra longe da rota mais simples, de modo a evitar depender de inimigos.
Às vezes, significa exercer força bruta. Pelas últimas 3 décadas, os EUA queimaram trilhões de dólares e milhões de vidas para, basicamente, garantir fluxos estáveis de energia para a economia americana - e, muitas vezes, outras partes do mundo.
Esta fase se aproxima do fim. Depois da destruição infligida no Oriente Médio, os ianques vêm reduzindo sua pegada militar no exterior.
O país mais poderoso da Terra tem diversos desafios - mas é energeticamente e agriculturalmente independente. Impossível de se dominar belicamente. E capaz de escalar sua produção manufatureira quando e como for preciso.
A Europa, por outro lado, não ocupa posição tão confortável. Sofre de:
Presença tímida em setores tecnológicos modernos (a maior empresa de tech europeia é a SAP);
Inaptidão para tecnologias “das próximas gerações” (ML, cripto, robótica: os principais players estão na América do Norte e na Ásia; a UE volta e meia flutua propostas no sentido de restringir o acesso popular a cripto);
Ausência de estrutura e vontade políticas para projetar poder externamente.
O Velho Continente, hoje, é um aglomerado de países com visões díspares sobre identidade, segurança e prioridades estratégicas.
Não é um projeto fácil consolidar poderio bélico de nível internacional, redirecionar gastos do setor social para o militar, expandir esforços “de paz no exterior” e construir autossuficiência energética.
💣 Direitos Humanos e Guerra
A história oficial sempre envolve "direitos humanos".
Dependendo de quem a conta, essas palavras mágicas podem justificar bombardeios em países longínquos, ou negociações diplomáticas. Podem aludir a confiscos de ativos de parte da sua própria população (alô, Canadá), ou a sanções financeiras capazes de aniquilar a economia de uma nação distante.
Acontece que questões de segurança nacional nunca são “um mar de rosas”.
Quando dissemos que a UE talvez precise “expandir esforços de paz no exterior” (Norte da África, Oriente Médio, Golfo Pérsico), isso significa basicamente ameaçar e matar pessoas - como os EUA muito fizeram nos últimos 30 anos.
Você pode torcer o nariz para uma declaração contundente destas. Mas, sejamos francos: suportar a Ucrânia é, também, essencialmente uma posição pró-guerra.
Colocar a bandeirinha no perfil. Doar criptos para o governo de Zelensky. Compartilhar cartilhas que instruem cidadãos a montar coquetéis molotov.
Sim, são formas de contra-atacar uma narrativa imperialista - mas não é porque se está de um lado ou de outro que a conotação bélica se atenua. Mesmo protegido por um teclado ou tela de smartphone, quem faz isso está, direta ou indiretamente, jogando querosene na fogueira militar.
É duro admitir, mas a história é inequívoca: nada une tanto o povo quanto uma guerra, e um inimigo em comum.
Nada faz um presidente marcar mais pontos do que um conflito na gringa - ainda mais se o envolvimento for com hashtags e sanções bancárias, em vez de tropas no solo.
🔭 Moedas Mágicas da Internet e o Fim das Nações
Flexione os músculos da imaginação: talvez você vislumbre um mundo bem diferente, daqui a algumas décadas.
Energia renovável eficiente e distribuída geograficamente. Integração digital profunda entre povos. Identidades nacionais e tribos internéticas se sobrepondo. Memes compartilhados por etnias distantes, suavizando tensões geopolíticas milenares.
Não é o cenário que vivemos hoje. Esse mundo precisa ser construído, tijolo por tijolo, tanto num nível técnico (hardware, software) quando teórico (mitos, cultura).
É um projeto para nós, nossos filhos e netos. E que requer que evitemos catástrofes no meio do caminho.
No curto prazo, torcemos por um fim rápido para a guerra.
No médio prazo, presumimos que o resto da década será desafiador. Os EUA não tem mais o interesse em “assegurar a paz” no resto do mundo. Conflitos regionais pipocarão, conforme a disputa pelo poder fica mais localizada.
Esta é basicamente a tese que elaboramos no relatório “O Fim das Nações”.
Os incidentes na Síria, na Criméia e na Ucrânia são o começo - e não o fim - da saída americana do palco bélico. Testemunharemos cada vez mais países aprendendo o que precisam fazer para manter, por conta própria, sua segurança nacional. Nem todos os casos serão agradáveis de assistir.
Na arena dos átomos, a década pode passar a impressão de uma “volta pro passado”. Na dos bits, a realidade acelerará rumo a cenários de ficção científica.
A vida virtualizada tem um potencial pacífico inigualável, pelo caráter “não rival” dos bens que oferece.
No universo físico, somente um país pode controlar um determinado estreito, gasoduto, ou pedaço de mapa.
No metaverso, isso não se aplica. Podemos viver rotinas paralelas - potencialmente nos mesmos meta-lugares - em harmonia mesmo com nossos mais ardentes opositores.
🌅 Memes, NFTs e a Utopia no Horizonte
O “padrão” da evolução tecnológica sugere que o metaverso será mais centralizado até que a internet atual.
As titãs da tecnologia têm o dinheiro, o talento e o alcance para exercer cada vez mais, e não menos, controle. Também contam com o suporte explícito dos Estados-nação.
Mas tem algo mais forte que todo este capital e poder: cultura. Memes. Pode parecer brincadeira, mas, acredite, esta declaração não poderia ser mais séria.
Memes elegem políticos. Direcionam o consumo (e resultados corporativos, e os preços de mercado). Norteiam a sociedade como um todo.
Com o Bitcoin, nós temos um meme para desviar a humanidade do ciclo vicioso das guerras e secessões financiadas com dinheiro barato.
Com cripto, temos uma tecnologia para criar e manter afiliações numa escala jamais vista.
Qualquer pessoa na Terra pode agora deter parte de um meme global - mais poderoso que todo governo, exército ou empresa.
Perceba: esta é uma história de migração. Nós somos os habitantes do “novo mundo” do terceiro milênio.
Representamos o primeiro experimento global de coordenação voluntária. Imparável, sem requisitos para participação. Eis o futuro da cidadania.
Cada membro é diferente, mas o grupo comparte objetivos em comum. Assim como no Catolicismo ou no Islamismo. No PT ou no PSDB. Bitcoin e Ethereum. CryptoPunks e Bored Apes. Todas as instituições catalisadas por mitos se formam essencialmente da mesma maneira.
Nós enxergamos uma janela, uma fresta na história, uma alavanca fugaz que talvez nos leve ao futuro próspero e livre com que sempre sonhamos.
A fresta é estreita, e não ficará aberta para sempre. Desponta naquela poeira que sucede um impacto de grandes proporções - quando a poeira abaixar, talvez já seja tarde demais.
Operamos, por enquanto, neste espaço selvagem ocupado pelos novos meios, e que some quando o meio é cooptado pelo sistema incumbente. Nós precisamos conquistar o meio. Agarrar a chance. Agora.
A Paradigma existe pra te fazer enxergar essa janela também. Pra te provocar a olhar através dela. A ansiar pelo que está do outro lado.
Talvez nós tenhamos de instigado a custodiar suas próprias moedas. Talvez tenhamos te provocado a decodificar as críticas anti-coiners, com mais racionalidade do que emoção. Talvez tenhamos te convencido a espalhar a palavra de Nakamoto. Talvez você até mande essa Café com Satoshi para um ou outro colega.
Pode parecer pouco, mas, com gente suficiente entendendo o que está em jogo, começa a fazer diferença. Como bem disse Nakamoto:
Não encontraremos soluções para problemas políticos na criptografia. Mas, com ela, podemos vencer batalhas-chave na corrida armamentista - e conquistar um novo território de liberdade.