☕ Café com Satoshi #54: O Único Jeito de Vencer a Guerra Fria Civil 🏳️
Uma preocupação central quando se desenhou a república estadounidense era equilibrar o estabelecimento de regras pela maioria (democracia)… com a necessidade de se impedir a maioria de tripudiar os direitos das minorias (república).
O ponto das constituições (e das supremas cortes) ocidentais era delinear uma república, e não uma democracia pura. Um sistema que limite os poderes das maiorias. Algo que você pode até descrever como anti-democrático, se quiser.
Não se preocupe, esta newsletter não é sobre política.
É sobre o denominador comum entre você e seus compatriotas. Sobre o quê vos une e vos separa, muito além de linhas imaginárias num mapa qualquer.
É sobre o único jeito de sobreviver ao caos social que emerge no horizonte. Este jeito está descrito na última frase deste texto. Leia até o final.
🏰 O Pique-Bandeira Virtual
No passado, lutava-se contra inimigos fisicamente separados. A condição da vitória era simples: invadir o território alheio.
Depois de 2016, ficou evidente que oponentes ideológicos também podiam habitar o mesmo espaço físico, ainda que distantes na esfera digital. Vitória, nesse contexto, significa invadir a cabeça do oponente.
Quando não dá pra lhe conquistar o território… conquiste-lhe a mente.
Pois como você sabe que invadiu a mente de alguém?
Você sabe que uma mente foi vencida quando se vê capaz de forçar a pessoa a dizer uma palavra. Ou a não dizer mais uma palavra.
A incluir uma certa frase no seu site. A mudar seu slogan. A sinalizar obediência se afastando de qualquer tipo de “comportamento rechaçado” pela maioria.
É proibido comparar maçãs com bananas; coisa de “escroto”. Usar o termo “inferior” imediatamente te define como nazista. Protestar pela razão A é cumprir seu dever cívico, mas quem protesta pela razão B merece a morte na cruz.
As fronteiras (digitais) se redesenham a cada declaração desse tipo. Daí a proliferação de afiliações tribais proclamadas em bios do twitter (dos #elu / elus aos #laserEyes).
Trata-se de um pique-bandeira virtual. Quem consegue capturar a bandeira do outro time primeiro, e voltar em segurança à base?
As fronteiras dessa guerra fria social são aquelas da linguagem, não as do mapa.
Por isso é imperativo que a mídia descreva Monark como nazista, ou o 6 de janeiro no Capitólio como uma insurreição.
Assim se eleva adversários políticos a um patamar vilânico, e se justifica desde a censura até a detenção por meios extra-judiciais.
O significado dos termos importa menos que as emoções que eles despertam.
💥 Cripto é a Perestroika do Ocidente
A tecnologia conferiu ao povo direitos que outrora eram prescritos, mas não exercidos em sua completude. O resultado é uma redução drástica no poder catalisado pelas elites. Daí a repressão em voga.
Você foi ensinado a celebrar os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de transacionar. São, afinal, sinais de uma sociedade livre.
Mas, até ontem, não podia praticá-los em todo seu potencial.
O direito de falar o que pensa tem uma conotação num mundo em que meia dúzia de famílias controlam os jornais e manchetes… versus num mundo em que passamos para algumas dezenas de conglomerados de TV. E ganha outro contorno quando pisamos nas redes sociais, onde qualquer energúmeno barulhento o suficiente consegue falar para milhões de pessoas.
A mesma analogia vale para crépetomoedas.
Liberdade econômica significa uma coisa num mundo pré-internet, em que abrir uma empresa custa caro demais. Significa outra coisa numa era em que abrir um negócio custa cinco cliques e uma mensalidade da Amazon. E ganha outro contorno depois de Satoshi, quando nem do dinheiro nem “dos cartórios do governo” você precisa para registrar uma companhia.
Falar sobre liberdade de discurso e liberdade transacional é fácil. Agora, na prática, quão preparados estamos para tais conceitos, quando eles florescem de verdade?
Redes sociais são a glasnost do Ocidente. Crépetomoedas são a perestroika.
Assim como a União Soviética não resistiu a estas duas aberturas… o império ianque, guardião do Ocidente, também não sairá ileso.
A China montou o seu Grande Firewall quando a internet ainda engatinhava. Os líderes deste lado do mundo só reagiram quando a web já estava nas mãos de bilhões de pessoas.
O que testemunhamos, agora, é a tentativa caótica do establishment ocidental de colocar o gênio de volta na lâmpada; de fechar a caixa de Pandora.
🧠 O “Grande Cérebro” tá Definhando?
Sob o mantra de “taxemos os mais ricos", agora, todos os saldos acima de $600, nos EUA, são monitorados de perto.
Sob o medo do contágio, infraestrutura para rastreio de contatos entre indivíduos (check-ins mandatórios com QR codes) se alastraram em todos os países do globo.
Sob o pretexto da “Lei de Infraestrutura” aprovada às pressas nos EUA, agora todos os novos carros carregararão um “mecanismo de desligamento remoto” (kill switch) para facilitar buscas de autoridades.
Com o advento das moedas digitais de Bancos Centrais, o seu dinheiro poderá expirar se não for usado dentro do prazo de validade. Notas de papel serão extintas. Você só poderá gastar em bens aprovados pelos homens de terno e gravata.
No país dos seus filhos, é possível que qualquer dissidente político tenha contas e salários bloqueados. Que as autoridades punam o debate. Penalizem a proposição de qualquer ideia polêmica.
É pelo livre discurso que a consciência coletiva evolui. Suprimi-lo é impedir que o “grande cérebro” da humanidade “pense por si", e ganhe musculatura.
Isso já esteja acontecendo. E é provável que você - ou alguém do seu lado - esteja celebrando conforme este futuro engole o presente.
Como escrevemos há 2 anos atrás: “Ninguém vai te convidar para habitar a distopia - é você quem vai suplicar por uma vaga nela”.
🏳️ Qual Batalha Você Prefere Vencer?
Não dá pra ganhar todas. Às vezes, é preciso escolher suas batalhas.
Você pode gastar toda sua energia lutando contra o presidente; contra uma crépetomoeda; contra a China; ou contra o que quer que te incomode na internet.
Seu inimigo pode criar trocentos pseudônimos, mudar de rede social, se financiar com dinheiro incensurável… - em suma, arrastar a batalha por toda a sua existência.
Não acreditamos em protagonistas e antagonistas preto-no-branco; nessa fantasia binarista de uma Disneylândia Política.
A metáfora da política como xadrez nunca foi tão adequada.
Enquanto você coloca bandeirinha e hashtag da Ucrânia na foto de perfil… famílias do outro lado do mundo recebem bombas em casa, perdem filhos e sujam as mãos de sangue.
O povo são os peões. Os reis mal movem a bunda - mas controlam a partida.
Acorda pra vida. Tem jogos nos quais o único movimento vencedor… é não jogar.
📚 Dicas de Leitura
🐦 Twitter as a City-State (Nathan Baschez)
Redes sociais com bilhões de pessoas devem ser tratadas como corporações privadas… ou utilidades públicas? Eis um argumento coeso pela democracia no ciberespaço.
🏠 What Makes Digital Real Estate Valuable (Scott Kominers)
O que distingue um terreno virtual milionário, de outro que não vale nada?
🤖 Discovering the Hidden Vocabulary of DALLE-2 (University of Texas)
DALLE-2 é um modelo de geração de imagens lançado pela OpenAI. Neste paper, os autores descrevem como descobriram uma linguagem própria interna ao modelo. Quase como se os robôs estivessem aprendendo a conversar entre eles - num idioma que humanos não podem entender.
📐 O Trilema da Interoperabilidade (Arjun Bhuptani)
Uma exploração dos trade-offs que acometem pontes (bridges) entre blockchains - como a Wormhole, a Connext e companhia.
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